Vinha ao longo da plataforma cheia, noite avançada da quinta-feira, por vezes tropeçando em seus próprios pés, e suspendendo, a cada dois ou três passos, a cintura da calça jeans frouxa demais. Parecia selecionar aleatoriamente uma pessoa aqui e ali para pedir uma moeda. Ao vê-lo se aproximar, as pessoas baixavam os olhos, mudavam de lugar, fingiam-se distraídas ou ocupadas.
Mas ela não. Ela não se afastou de sua abordagem próxima demais, encarou-o sem sentir nojo, escutou o que ele tinha a dizer com interesse genuíno. Já ele, desconcertado por ser tratado como ser humano pela moça branca de olhos belamente maquiados, vida ocupada e exercícios físicos regulares, desviou o olhar para o vazio, sentiu vergonha dos seus cabelos em total desalinho, sua barba excessivamente longa, suas roupas sujas, sua pele negra quase cinza de tão empoeirada. Sem pressa, ela guardou o celular no bolso, e abaixou-se para procurar algo na mochila jogada ao chão, uma mania dos canadenses em Montreal. Levantou-se com uma moeda de dois dólares entre o polegar e o indicador, que exibiu como um troféu, na altura dos olhos de ambos. Com um meio sorriso natural em seu rosto ainda jovem, mas já marcado pelo tempo, dada sua pele pálida, ela falou algo como: está vendo essa moeda? Eu vou lhe dar essa moeda. Mas pense bem no que você vai fazer com ela. Ou talvez ela tenha dito, está vendo essa moeda? Pegue essa moeda e vá tomar uma cerveja porque eu não tive happy hour hoje e estava até agora em reunião com o chefe, e a vida deveria ser mais do que isso, você não acha? O senhor que estava próximo aproveitou para também pôr uma moeda na mão do pedinte. Ele seguiu, com sua apatia estampada no rosto, em minha direção. Covardemente, baixei os olhos e ele passou sem me notar. A moça entrou no mesmo vagão que eu e em pensamento eu lhe disse, obrigada por existir.
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