domingo, 19 de novembro de 2017

A troco de nada

Segura um copo descartável de café. Sua cabeça pende ora para frente, ora para trás. Seu estado deplorável é no entanto incapaz de ocultar a beleza masculina da sua meia idade, uma barba grisalha ainda curta, quase bem cuidada, poder-se-ia dizer. De tênis esburacados, roupa suja, provavelmente entrara no vagão após um domingo sentado em alguma porta de estação de metrô, segurando um copo de papel, apenas. À espera de moedas, a troco de nada. Assim como tantos outros pela cidade, não canta nem toca um instrumento, nada vende, não oferece um serviço, sequer pede. Apenas espera. E agora, ao fim do dia, deixa-se levar ao longo da linha laranja. No sacudir do vagão, abre às vezes os olhos, mirando sem foco o vazio do seu não-futuro.

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