domingo, 18 de abril de 2010

Stranded in Atlanta

Fase 1: Surprise, surprise
CHI'10, a maior conferência da área de Interação Humano-Computador, encerrou-se em Atlanta enquanto as cinzas do Eyjafjallajokull escureciam os céus europeus. As notícias chegaram a tempo de serem incorporadas com bom-humor aos slides de fechamento do evento, acompanhadas por sugestões do que fazer na cidade.

Fase 2: E agora, José, José, para onde?
Fato: não há o que se fazer em Atlanta. Nunca visite Atlanta. Tem um aquário. Tem um zoológico. Tem um museu da Coca-Cola feito por americanos para americanos, e as famílias americanas vêm a Atlanta conhecer essa máxima manifestação da cultura nacional. Se eu fui? Claro que fui. Descobri que foi a Coca-Cola que inventou a imagem de Papai Noel com a barba branca e a roupa vermelha!!! Gostei da sessão de comerciais, com os ursos polares e etc. Os comerciais da Coca não me fazem gostar nem beber, mas são ótimos (paradoxo?). No final há 64 bebidas diferentes da marca Coca para você experimentar. Quantas experimentei? Nenhuma, lógico.
Fora isso, Atlanta é dominada por negros mas ainda se vê claramente a segregação. Eles ocupam todos os subempregos, e vários pedem dinheiro na rua agressivamente. Ah, eles falam com um super sotaque de filme americano. Oh yeah, man. Awesome.

Fase 3: Todo mundo se querendo
E veio a diáspora. Fulaninho tem uma amiga que tem uma tia em Chicago. Cicraninho tem um primo terceiro em NY. Muitos foram-se rapidinho. Mas outros tantos ficaram. O lobby do hotel virou ponto certo de encontro. Todos unidos, os stranded ("someone without the means to move from somewhere"), ou seja, à deriva. À deriva mesmo, vagando sem destino pelo lobby, papeando com um aqui, outro ali... compartilhando sabão pra lavar roupa... dando dicas, oferecendo um ombro... Diálogos típicos: are you also stranded? (Yes.) So when is your flight? (In a week. In 10 days...) What are you going to do? (I don't know.) Let's go for a coffee. Let's go for a drink. Let's go for a meal. Let's go to the park and lie in the sun. Nice..
E como bons membros da comunidade Humano-Computador, pusemos as tecnologias em ação, a todo vapor: twitter, facebook, email, wikis, blogs, webpages. Tem de tudo. Em um piscar de olhos. Entra no Google.
E nós, que passamos a nos apresentar com um novo rótulo (Hi, I'm Taciana, I'm stranded) além de unidos pela incerteza e indefinição, conquistamos a simpatia e compaixão locais. Hotéis com tarifas especiais; a universidade (GeorgiaTech) oferecendo suporte moral, acesso à Internet, e lugar pra trabalhar; habitantes oferecendo um colchão em suas casas, comida, e até mesmo dinheiro emprestado. Dias cheios - hoje temos que mudar de hotel. Hoje tenho que fazer uma ligação. Hoje temos que buscar os vouchers pro jantar. Hoje tenho que lavar roupa. Hoje tenho que ir ao supermercado. Doutorado? Trabalho? Quem tem cabeça pra isso? E tem sempre um stranded aparecendo para um papo esperto.

Fase 4: Haverá luz no fim do túnel?
Tá tudo muito bom (bom!), tá tudo muito bem (bem!), consola um aqui, o outro ali chorando, crises de estresse, risos, deixa pra lá, ok, ok, mas essa nuvem vai se dissipar or what?? Sim, em alguns dias quem sabe. Bom, pode durar meses. Olha, da última vez durou um ano. Vamos combinar, o otimismo não está em alta entre os stranded. Mas faz parte do jeito stranded de ser. Temos que atrair pena. E estamos entrando para a história. Fala sério, eu terei uma história incrível pra contar pros meus bisnetos. Em 2010, um vulcão entrou em erupção na Islândia, e interrompeu o tráfego aéreo na Europa. Naquela época, eu morava em Londres... How cool is that?? Só sei que foi assim.