sábado, 25 de abril de 2009

Don't save the children

Quando eu crescer, quero ter cinco filhas, cujos nomes começarão com L: Lara (ou Lavínia), Letícia, Lívia, Lorena e Luísa. Se o destino decidir que, depois de crescer aguentando dois irmãos pestes que tiraram o sossego da minha infância (meninos, amo vocês!), eu ainda mereço ter filhos homens, seus nomes começarão com V: Vladimir, Vicente, Valentim, Vinícius.
Se minha vida fértil chegar ao fim antes de eu encontrar um pai para todas essas crianças, eu posso seguir os nobres exemplos de pessoas como Madonna e Angelina Jolie, e sair catando pimpolhos mundo afora para montar uma família arco-íris.

Não sei. Pode ser puro preconceito, mas essa campanha save the children do "primeiro mundo" não me desce garganta abaixo, por mais que eu tente engolir. No metrô, exibem fotos de criancinhas geralmente negras, geralmente africanas, um pouco sujinhas, de preferência descabeladas, meio-sorriso artístico com olhos tristonhos, e ao lado uma frase do tipo: "Fulaninho, 3 anos, Cafundós do Judas, quer ser médico." 3 anos e já quer ser médico?!? Fala sério, deve ser superdotado.
Vem cá, nos EUA não existem órfãos não? Tenho certeza que dá pra achar até um pretinho, hein, Madonna! Mas não, tem que ir lá pras brenhas africanas salvar a menininha um pouco sujinha de seu futuro - ou talvez de seu não-futuro. Tribunais, papparazis, mídia, Lourdes Maria, sorria pra foto, filha, ajeite o cabelo, iupiii, uma festa. Save the chidren.

Aí você vai no mercado e tem os produtos Fair Trade, cuja comercialização é supostamente mais vantajosa e justa para com os produtores (sabe, aqueles pobres coitados lá nas brenhas do interior de não sei onde?). Aí você passa no Starbucks e tem o cartaz "nosso café é Fair Trade, juntos podemos ajudar a melhorar a vida dos produtores de café". Daí você compra seu café, senta com seu jornal e acha que está "contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social". Enquanto isso a campanha do Fair Trade chama os países em desenvolvimento de "terceiro mundo" (ainda?!?) e divulga comerciais na TV mostrando os heróis primeiro-mundistas aterrissando nas brenhas e mudando tudo, trazendo o progresso, construindo isso e aquilo, enfim, salvando os pobres coitados de sua ignorância, suas vidas miseráveis, seu não-futuro. Qualquer semelhança com colonização e imposição sócio-cultural não é mera coincidência. Eles sempre sabem o que é melhor. No fundo, é the same old story: sejam os jesuítas catequizando os índios, seja Madonna retirando bebês do inferno africano para um paradisíaco "primeiro mundo", sejam os EUA invadindo o Iraque, é sempre a filosofia save the children. É aquela visão superior, que humilha em vez de motivar, que gera um círculo vicioso em vez de auto-suficiência e independência, que impõe, de mansinho como lobo disfarçado de cordeiro, passando a mão na cabeça dos coitadinhos, mas mantendo-os sob controle.

Não sei... mas não desce. Desculpem-me o ceticismo e amargura, que podem não combinar com minha habitual visão otimista do mundo e das pessoas, mas tem algo errado no ar, na postura, no tom.

Mas como eu ia dizendo, Luísa, Lorena, Lívia, Letícia, Lara. Ou talvez Lavínia.

terça-feira, 14 de abril de 2009

So long, farewell, auf wiedersehen, goodbye

E aí ele me disse acho que não quero mais, e me abraçou, e eu coloquei a mochila nas costas e olhei para trás e ele ainda estava lá, e olhei através da porta de vidro e ele ainda estava lá, e quando não pude mais vê-lo eu chorei. E chorei por dias e meses até que ele veio até mim e disse tenho certeza que não quero mais e me abraçou ao portão como havíamos feito nos últimos cinco anos mas essa era a última vez. E eu fechei o portão e se ele olhou pra trás eu não sei, e eu chorei.

E um dia eu resolvi partir e abracei muitas pessoas mas não chorei e coloquei a mochila nas costas e se eu olhei pra trás... eu não lembro. E no aeroporto-destino não havia abraços para mim nem para ninguém porque lá só há homens engravatados com plaquinhas para Mr Beltrano ou Mr Fulano.

E desde então foram tantos encontros e despedidas por este mundo de meu deus que já não há lugar para lágrimas, mas sempre há a chance de um abraço. Um abraço, um sorriso, mais uma despedida, virar as costas e seguir rumo, olhar pra frente como quem olha para um futuro enigmático e flutuar em uma romântica melancolia e pensar what's next, o que será que será, com quem, onde, quando, como, por quê. E o melhor de tudo é não ter as respostas.

E assim, como dizem Chico & Edu, ir deixando a pele em cada palco e não olhar pra trás.

E nem jamais

Jamais dizer

Adeus.