quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Elas e seus amores, ou Esse é para casar

Instituto de Educação, mais uma manhã chuvosa de segunda-feira. Após uma aula sobre ética na pesquisa almoçamos juntas, as quatro.
M., chilena, 32 incompletos com jeito de 26, casou-se poucos meses antes de vir para Londres. Precisou de muita terapia para traçar o perfil do homem perfeito para casar (com ela). Não, não era aquela grande paixão dos seus 20 anos, aquele rapaz deprê sempre a carregar um olhar encantadoramente melancólico. Tampouco era aquele gatérrimo que vivia a escalar montanhas. M. e D. conversaram muito e decidiram, racionalmente, que haviam nascido um para o outro. Firmaram contrato. Nada de sentimentos avassaladores que embaralham a cabeça - quem pode casar assim?
I. faz coro. Aquele que partiu seu coração era um cara atlético, mas que cultuava o físico ao extremo. I. é mexicana, tem 29 anos, casada há 3 com um cara que tem lá sua barriguinha, mas foi O cara para casar. Naturalmente não se espera que ele vá partir-lhe o coração.
Curiosamente, é a japonesa K., nos seus 32, que vem questionar a frieza dessas latinas. Pois casamento para K. decide-se à flor da pele, como quando ela disse sim ao pedido do seu melhor amigo, pelo Skype, de Tóquio para Londres. Casam-se mês que vem e continuarão à distância enquanto a vida assim o quiser.
Desde que, mal ou bem, entrei nesta nova fase da minha vida, uma das coisas que mais me confortam é ouvir as histórias dos outros.

2 comentários:

Mayra disse...

As histórias e idiossincrasias dos outros nos deixam tão mais à vontade com as nossas próprias... E essa história é ótima, principalmente por mostrar uma cara tão estrangeira do gênero feminino - mulheres com opiniões tão disparatadas sobre (desculpe pelo clichê!) essa outra terra estrangeira que é o amor.

Jorge Falcão disse...

Minha longa vida de sofrimentos, prazeres, cabeçadas e aprimoramentos, incluindo o tempo em que tive motocicleta e, graças à leitura intensiva de "Zen e a arte da manutenção de motocicletas" (recomendo: Robert Pirsig) durante o qual pude evoluir um pouquinho, me permite avaliar o seguinte: é inútil e improdutivo equacionar racionalmente decisão de com quem viver (seja conjugalmente, profissionalmente, etc.); mas esse pólo é necessário; é perigoso dar toda corda à corda emotivo-afetiva, e deixar que as coisas se decidam à flor da pele (emoções não têm compromisso com o dia seguinte, e nem com a gestão do real); mas esse pólo é necessário. A separação do afetivo e do racional é um falso dilema que Descartes plantou em nossos espíritos no alvorecer do Iluminismo. Vivemos nossas emoções com esforços de organização, tentando com denodo fazer que as fichas caiam. Dedicamo-nos às tarefas mais áridas, cognitivamente falando, com tesão, alegria, nojo, ansiedade, por aí vai. O funcionamento humano é isso: um complexo multiforme onde todos os aspectos interagem sem separação possível. No mais, onde moram as boas escolhas? Em lugar nenhum. Boas escolhas são uma questão de balanço de custos e benefícios; relações tornam-se boas no dia-a-dia, relações são boas na medida em que zelamos por elas, investimos nelas, extraímos boas coisas delas; pessoas ótimas podem tornar relações algo infernal; pessoas simples e "calmas" podem viver maravilhosas relações (como tb não). O âmago da sabedoria mora em se acalmar diante da existência, e nela investir com responsabilidade, grato ao Grande Demiurgo pelo milagre de estar vivo, e ajudando com denodo de jardineiro na tarefa que Ele deflagrou. É preciso estar agradecido por viver, seja a vida mais miserável que for, isto é crucial. E zelar por esta dádiva. Está portanto fundada a Igreja Universal da Pedra do Reino, sob minha direção e iluminação, e copy-right de Ariano Suassuna. Quem quiser aderir pode desde já começar a enviar contribuições mensais para mim, na base de 10% do ganho bruto mensal, sob pena de cessação de toda e qualquer possibilidade de ser feliz. Alá é o mais forte.
Pai.