Em um recente debate entre os presidenciáveis norte-americanos, Barack Obama proferiu a seguinte pérola, referindo-se a Osama Bin Laden: "we have to find him and kill him!". Ninguém me contou, EU ouvi.
A declaração não pareceu nada alarmante, pareceu mais uma promessa qualquer de campanha. Eu prometo mais empregos, melhorar o sistema de saúde e matar Bin Laden. É tão simples assim?? Vocês imaginam Lula, Alckmin, ou até mesmo, sei lá, Severino Cavalcanti, dizendo: "Temos que encontrar Fernandinho Beira Mar e matá-lo"?? No mínimo, isso geraria uma semana de rebuliço no país. Imaginem, entre as manchetes do Jornal Nacional, Fátima Bernardes anunciando: "A seguir: Lula promete matar Fernandinho Beira Mar". Pode até ser que boa parte da população brasileira aprovasse a medida, e adorasse ver Beira Mar nas mãos do Capitão Nascimento. Mas venhamos e convenhamos, nossas razões são bem outras, nascidas de um sentimento de revolta ao vermos tantos revólveres apontados para cabeças inocentes por conta de celulares e alguns reais - e isso é tema para outro post. Mas e eles lá de cima, que razões têm?
No documentário "Por que lutamos", a grande maioria dos norte-americanos entrevistados na rua respondeu: "lutamos por liberdade". Liberdade de quem, cara-pálida? Isso parece cantilena de colégio, memorizada sem compreensão. Quando eu era 7a série, nossa professora de Ciências nos fez decorar que "enzima é uma substância capaz de acelerar uma reação" e eu não fazia a menor idéia do que isso queria dizer. Nas escolas norte-americanas, eles devem fazer as crianças repetirem "lutamos por liberdade". Às vezes me pergunto se já não está em andamento a edição de notícias passadas para fazer a sociedade acreditar em fatos que não ocorreram, como George Orwell descreveu em "1984" - a verdade é aquilo em que todo mundo acredita.
É uma questão de valores. Digam o que quiserem, mas pra mim há algo de intrinsicamente errado com os princípios dessa gente do Tio Sam.
E assim, os Estados Unidos libertaram o Iraque de Saddam Hussein. No buraco, encontraram apenas o ditador, que escondeu tão bem suas armas de destruição em massa que nem ele mesmo as encontrou mais - do contrário não estaria morto agora.
Pois é, senhoras e senhores, continua a missão estadunidense para salvar o mundo. Clap, clap, clap, parabéns, Obama. Do outro lado do planeta, dentro de algum buraco, Osama deve estar discursando para seus homens-bomba: "temos que entrar lá e explodirmo-nos". Vai ver que, eles também, lutam por liberdade.
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Um comentário:
Inicialmente eu fiquei muito decepcionada com Obama. Não que tivesse grandes expectativas sobre ele: se Obama fosse alguém de quem eu pudesse esperar grande coisa, muito dificilmente estaria cotado para a presidência dos Estados Unidos! Mas pretender matar alguém assim tão declaradamente era demais. Depois, pensando melhor, achei que a situação não é tão ruim quanto pareceu de início: ele não disse que pretende matar Osama Bin Laden, não prometeu caçá-lo, não defendeu matar esse ex-parceiro dos Estados Unidos como plataforma eleitoral. Tenho a impressão de que ele falou isso em resposta à afirmação de Mcain, Obama não só não podia deixar de opinar, como não podia dizer o contrário de Mcain, porque Bin Laden é o inimigo n°. 1 dos EUA no momento! Ele falou: temos que encontrá-lo, temos que matá-lo, assim... teoricamente...Claro que eu preferia votar nele (e votei!) se ele dissesse, com a franqueza de Pantaleão (da campanha para a prefeitura do Recife 8 anos atrás, lembram?), que prometia não caçar nem muito menos matar Bin Laden, mas quantos americanos acompanhariam o voto dessa humilde brasileira formadora de opinião? Estamos sob o reinado do marketing (sede não é nada, imagem é tudo, não é esse o slogan do famoso refrigerante?), esse monstrengo bastardo do capitalismo. E qual é o reino do capitalismo da nossa era?!
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