sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Assim como nós perdoamos

A jovem senhorita abordou-me educadamente na sala de espera do consultório, e, com um sorriso, entregou-me o panfleto como quem estava divulgando um evento cultural, ou uma loja de roupas. "Pena de morte, sim", foi a primeira coisa que li, e enquanto ainda tentava entender, ouvi a senhora ao lado dizer "É político, é? Quero não.".

A campanha pela pena de morte no Brasil é a principal proposta do tal político, que se gaba de ser "um corajoso". Para convencer o eleitor, o panfleto traz uma coleção de notícias sangrentas de fazer inveja ao caderno policial da Folha de Pernambuco. Palavras como torturou, matou, esquartejou, e estrupou aparecem grandes e em cores fortes. O candidato propõe, entre outras coisas, a castração química dos estupradores, e seu jargão é "bandido bom é bandido... Antes ele do que você" (assim mesmo, com reticências). Na entrevista transcrita, ele quer, "olho por olho, dente por dente, pagar na mesma moeda".

Na mesma moeda... matar quem mata, esquartejar quem esquarteja, torturar quem tortura... como é que ao recriminar-se tão fortemente tais ações, faz-se uso das mesmas como castigo? Como se pode tomar atitudes semelhantes àquelas tão repudiadas? Descer ao nível dos criminosos, é essa a maravilhosa proposta? O candidato, com sua "coragem", incita a sociedade a tornar-se tão violenta e impiedosa quanto os bandidos, acende o ódio, incentiva as pessoas a agir como os criminosos, no olho por olho, dente por dente. Como se a violência já não estivesse suficientemente banalizada. Tudo isso me apavora. Castração química? Que tipo de punição é essa? Até parece coisa dos nazistas. Desse jeito, onde vamos parar? Deseja o candidato criar uma sociedade em que as pessoas têm em mente atacar as outras para salvar sua pele, pois "antes elas do que você"? O nível e o formato desta campanha me assustam e me enojam.

O meu voto, para isso? Não.

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