sábado, 1 de agosto de 2009

Lá vem o Brasil, descendo a ladeira?

Algumas verdades a serem levadas em consideração
1. Eu acho que os meios de comunicação têm sim, que denunciar, reclamar e dar voz aos menos favorecidos;
2. Eu acho que os menos favorecidos têm sim direito a uma assistência especial do governo até que se estabeleçam condições justas de partida na disputa pelas oportunidades da vida;
3. Eu não acho que os meios de comunicação devam divulgar reportagens que desprezem a minha capacidade de discernimento.

O objetivo da reportagem especial Das palafitas às ilhas de concreto é criticar o programa habitacional da prefeitura do Recife. Que seja. Mas das duas uma: ou os jornalistas foram extremamente infelizes nas escolhas de seus argumentos, ou trata-se de uma tentativa vazia e sem fundamento de ataque barato ao governo (obs: a questão da estrutura dos prédios é um dos poucos argumentos da reportagem que me pareceu válido).

O fato em questão:
- A prefeitura construiu conjuntos habitacionais e para lá transferiu parte das famílias da comunidade de palafitas Abençoada por Deus.





O que diz a reportagem:
- "Em julho de 2008 a prefeitura transferiu menos da metade das familias para um conjunto habitacional".
Ok, há muito mais a ser feito. Nessa comunidade, nas outras comunidades, nas outras cidades, nos outros países. Mas não seria uma boa coisa o fato de que alguém pelo menos fez uma parte?

Tudo bem, vamos em frente. A reportagem então começa a desfilar alguns absurdos identificados no novo conjunto habitacional:
- "o jogo de dominó é improvisado em cima de tábuas que ficam apoiadas nas pernas dos participantes";
- "não bastasse a disputa entre os pequenos" (pela área para jogar bola), "a turma da terceira idade reivindica igualmente o direito de andar pela pracinha"
- depoimento de uma moradora: "eles (as crianças) precisam gastar energia e não têm um balanço sequer!"
- "das flores e plantas ornamentais presentes no dia da inauguração do residencial, sobraram apenas arbustos secos"
- "disseram que o contrato seria entregue nos primeiros meses da transferência, mas nos jogaram às pressas aqui dentro e ainda não temos nada"
- "o consumo de drogas também é grande. Lógico que lá também existia isso, mas não da mesma forma como aqui dentro"

Peraí, minha gente!! Eu sou uma pessoa extremamente privilegiada nesta vida, e jogava dominó no chão na escola (nem tábua a gente tinha). Nos prédios onde morei, nunca houve playground, e em um deles éramos proibidos de entrar no jardim. Até onde eu saiba, isso nunca virou notícia de jornal nem me causou nenhum trauma psicológico.
Se havia belas plantas na inauguração, por que os moradores não cuidaram delas?
O contrato não foi entregue ainda? Ok, isto está errado, mas já não é bom ter um lugar decente para morar? Se eles estão nas palafitas, reclamam (lógico!), se são transferidos pro apartamento, reclamam que são jogados às pressas (ilógico?)!

O ponto é: tuuudo culpa da prefeitura. As plantas morreram? Culpa da prefeitura. As pessoas estão se drogando mais do que nas palafitas (!?!) ? Culpa da prefeitura. Tem violência e sujeira? Culpa da prefeitura. Pois assim encerra o jornalista: "sempre nos dá um aperto no peito em ver o descaso dos governantes com o povo tão sofrido e massacrado pela vida". Ah, pelamordedeus...

Então, a lógica é: a prefeitura constrói prédios e transfere as pessoas. Aí, as crianças não têm onde brincar (ah, porque lá nas palafitas devia ter uma Disneylândia), as pessoas têm que jogar dominó em tábuas (ah que saudade das salas de jogos das palafitas!), as plantas morrem, as pessoas se drogam mais, ou seja, dá tudo errado. Tudo por causa do descaso dos governantes. Conclusão? A que eu tiro dessa reportagem é: o programa habitacional da prefeitura está fazendo um mal danado à população.

Cá com meus botões, no entanto, eu vos confesso... enquanto as pessoas não tiverem acesso a uma educação que lhes permita cuidar do que recebem, compreender a lógica da coisa e organizarem-se em suas comunidades, não vai ter conjunto habitacional que resolva. Como declarou a própria líder comunitária: "é incrível porque é a própria comunidade que quebra tudo". Preciso dizer mais alguma coisa? Ah, sim, a culpa é do governo.

3 comentários:

aldircm disse...

Parabéns pela feliz avaliação. Li o referido trabalho e lhe confesso,fiquei confuso.Mais uma vez parabéns!

Rosa disse...

Quem não quiser levar a culpa por absolutamente tudo, não seja governo nem mãe! Agora veja se no tempo que a direita governava essa cidade a imprensa criticava desse jeito? E olhe que a cidade está muito melhor agora, principalmente para as classe C, D e E. O problema é que essas não editam jornal. Nem compram!

Analu. disse...

Concordo com vc! As pessoas que recebem tudo de mão beijada geralmente não dão mto valor. Não suaram , sofreram para conseguir. Se escondem atrás dessa posição de vítima marginalizada, esquecendo-se que são autores de suas vidas e que devem agir, não esperar as coisas cairem do céu. O mais irritante é que ainda acham que é obrigação serem amaparadas pelo governo se não tiveram boas opotunidades. Eu me admiro com as flores que nascem da adversidade. Pessoas que reconhecem sua situação, mas não ficam de braços cruzados e vão a luta. Aposto que os que batalharam pela mudança não devem ter mto o q reclamar, pois eles sabem, o qdo deve ter sido árduo...Agora os que vem na aba sempre vão achar defeitos...