domingo, 11 de janeiro de 2009

A bondade que escolhemos ter

Eu acredito na bondade das pessoas. Falo de forma geral - claro que sinto medo ao avistar aquele "tipo suspeito" na rua. Mas, nas interações regulares da vida, tendo sempre a pensar que os outros são honestos, solidários e de bom coração. Nunca acho que o cobrador do ônibus, a garçonete ou o gerente do banco vão me enganar, roubar ou destratar.
Outro dia, perdi o avião. Cheguei dois minutinhos após o check-in ser encerrado, mas não houve conversa. Tudo que a mocinha da companhia fez, sem mais prelúdio, foi me informar os horários dos próximos voos. Deixei-me ficar por ali, com uma cara de "e agora José", como que esperando que, por mágica, aparecesse alguém conhecido, a quem eu pudesse pedir um conselho, uma opinião sobre o que fazer. Enquanto isso, fiquei a observar o trabalho da mocinha que me atendera.
Muito loura, com olhos azuis de gato, ela mantinha-se impassível frente a cada passageiro que chegava atrasado para o voo. Uns se desesperavam e cobriam o rosto com as mãos, outros se resignavam, outros ainda argumentavam, pediam, suplicavam, e finalmente alguns ficavam transtornados e perdiam as estribeiras. A tudo isso, assistia a mocinha sem esboçar qualquer reação, quase sem piscar os olhos que fitavam friamente o passageiro esperando que este tomasse um rumo. Quando uma jovem polonesa praticamente teve uma crise histérica no balcão, a mocinha e suas duas colegas uniram-se para enfrentar a fera, sem um mínimo de compreensão ou delicadeza, e assim que a jovem virou as costas e afastou-se bufando, as três soltaram gargalhadas visivelmente forçadas e claramente desnecessárias.
Entendo que todos os dias, vários passageiros venham chorar ao pé da mocinha de olhos de gato, que deve pensar consigo "lá vêm mais uma vez esses idiotas me encher a paciência" e "por que diabos eles não chegam na hora em vez de ficarem com essas caras de cachorros pidões". Entendo que, no fundo, ela não deve ser uma pessoa má, e deve queixar-se à mãe ou ao namorado que não aguenta mais esse emprego e essas pessoas repetindo a mesma ladainha como se ela pudesse fazer alguma coisa.
O que ela talvez não perceba é que há sim algo que ela pode fazer. Ela pode dizer, com uma certa doçura na voz, que sente muito, mas que as regras não podem ser descumpridas, e que há outras opções de voos, gostaria de vê-las? Uma postura amigável, mocinha, com um leve sorriso nestes olhos de gato, uma demonstração de compaixão no lugar desta fria indiferença, a deixaria por certo mais feliz, e, de quebra, ainda mais bela.

2 comentários:

Mayra disse...

Minha bisa já dizia: pra tudo precisamos de dinheiro, mas um sorriso não custa nada...

Mayra disse...

Me lembrei de você:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2009/01/090112_ivanlessa_tp.shtml
=)