É domingo, pego o ônibus 15 para ir à National Gallery. Disseram-me que os girassóis de Van Gogh estão por lá. Não sou lá uma pessoa com uma veia artística muito apurada, mas não custa nada (e não custa mesmo, é de graça :P) ir dar uma olhadela em uns Van Gogh, Monet, Renoir, esse pessoal fraquinho.
Esse ônibus aí para no mesmo lugar onde nós peguemo (sic) esse.
No primeiro andar do famoso ônibus vermelho, três brasileiros brindam todos os passageiros (especialmente os que estão entendendo) com uma interessante e sofisticada conversa, caprichando nos "R" mineiros ou paulistas, whatever.
Tá vendo aquela gordinha ali? Se dá um vento, levanta o vestido, mostra a bunda, ela nem liga.
Ao lado dos girassóis de Van Gogh, estava o meu preferido Campo de Trigo com Ciprestes:
Com toda a minha falta de talento para as artes plásticas, tive que copiar este quadro como ilustração no meu caderno de poesias da escola na França.
Cê tá pegando muitas?
Eu, pegando?? Eu não tou pegando é nada!
Ciprestes... como era mesmo aquela poesia de que eu gostava, que falava de ciprestes?
"Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo..." Fernando Pessoa
(salve o Google)
Ontem tomei umas e fiquei malucão, meu.
(Uma cópia de) Campo de Trigo com Ciprestes está agora na parede do meu quarto.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
terça-feira, 28 de outubro de 2008
O punk, o homem nu e outros causos londrinos
East India Dock Road, parada do ônibus. Ele obviamente tinha dentes demais na boca. Uma longa capa preta pendurada em um dos ombros deixava aparecer um tubo metálico, com algumas rodelas de espuma igualmente espaçadas, preso às costas do dono. Botas pretas, calça justa preta, camiseta preta. Ao seu lado, uma velhinha simpática tentava ajudá-lo. Falavam de caminhos, reconheci nomes de ruas. A velhinha tratava-o como a um filho. Ao subir em seu ônibus, desejou: "God bless you, darling!". "Darling", pensei, eu chamaria esse punk de tudo menos "darling". Só, ele aproximou-se de mim. Puxou conversa. Falava enquanto eu balançava a cabeça sorrindo amarelo - que sotaque miserável (ou seria culpa dos dentes?) - eu entendia uns 20% de tudo que ele dizia. Mostrou-me os braços com marcas - algo definitivamente tinha-lhe acontecido "da última vez". Meu maravilhoso mundo de Bob logo imaginou que ele tinha apanhado da polícia em praça pública devido a alguma performance artística com o tubo metálico. Mas agora, disse ele, "cortei o cabelo, comprei umas roupas novas" (bela capa!), então, "fingers crossed", terei mais sorte. God bless you, darling.
***
Show da mexicana Julieta Venegas. Na fila na calçada, mexicanos, mexicanas, namorado(a)s de mexicano(a)s em todas as possíveis combinações, e eu. De repente, surge ele do nada, correndo e gritando, vestindo apenas uma mini-blusa cor de rosa transparente e justíssima. Eu disse APENAS isso. Corre rua acima... corre rua abaixo... e desaparece beco adentro. Provavelmente, uma despedida de solteiro. Oh, dear.
***
Comprei um panini e a moça colocou um pacote de batatas chips junto. Não gosto de batatas chips. Ao terminar meu sanduíche no banco de uma ensolarada Leicester Square, resolvi que não levaria as batatas comigo. Olhei para o cara do meu lado, que também lanchava. Vou oferecer as batatas. Ele vai achar que eu sou louca. Ele vai pensar que o estou tratando como mendigo. Ele vai pensar que as batatas estão envenenadas. Ele vai pensar que tem uma bomba no pacote de batatas!! Eu não vou levar essas batatas. "Excuse me", você gosta dessas batatas? Ela é louca, ele pensou. "É que eu comprei um sanduíche e elas vieram junto, mas não gosto...". Ele pegou as batatas resmungando algo incompreensível. Afastei-me rapidamente com um leve sorriso nos lábios. Que bom que me livrei das batatas.
***
Do outro lado da rua, ela soluçava. O sinal de pedestre abriu e ela não se moveu. Cheguei ao lado dela ao mesmo tempo que uma outra moça. Paramos, uma de cada lado, e a moça perguntou-lhe o que se passava. "Eu estou muito assustada, muito assustada". A moça ofereceu-lhe o braço para atravessar a rua. Acenei com a cabeça e segui meu caminho. Coincidência ou não, a moça também não era inglesa. A mulher assustada era.
***
Show da mexicana Julieta Venegas. Na fila na calçada, mexicanos, mexicanas, namorado(a)s de mexicano(a)s em todas as possíveis combinações, e eu. De repente, surge ele do nada, correndo e gritando, vestindo apenas uma mini-blusa cor de rosa transparente e justíssima. Eu disse APENAS isso. Corre rua acima... corre rua abaixo... e desaparece beco adentro. Provavelmente, uma despedida de solteiro. Oh, dear.
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Comprei um panini e a moça colocou um pacote de batatas chips junto. Não gosto de batatas chips. Ao terminar meu sanduíche no banco de uma ensolarada Leicester Square, resolvi que não levaria as batatas comigo. Olhei para o cara do meu lado, que também lanchava. Vou oferecer as batatas. Ele vai achar que eu sou louca. Ele vai pensar que o estou tratando como mendigo. Ele vai pensar que as batatas estão envenenadas. Ele vai pensar que tem uma bomba no pacote de batatas!! Eu não vou levar essas batatas. "Excuse me", você gosta dessas batatas? Ela é louca, ele pensou. "É que eu comprei um sanduíche e elas vieram junto, mas não gosto...". Ele pegou as batatas resmungando algo incompreensível. Afastei-me rapidamente com um leve sorriso nos lábios. Que bom que me livrei das batatas.
***
Do outro lado da rua, ela soluçava. O sinal de pedestre abriu e ela não se moveu. Cheguei ao lado dela ao mesmo tempo que uma outra moça. Paramos, uma de cada lado, e a moça perguntou-lhe o que se passava. "Eu estou muito assustada, muito assustada". A moça ofereceu-lhe o braço para atravessar a rua. Acenei com a cabeça e segui meu caminho. Coincidência ou não, a moça também não era inglesa. A mulher assustada era.
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Ensinar é a coisa mais bonita que tem!
Muito me honra aqui postar um texto de meu pai que, não tendo tempo no momento para criar seu próprio blog, mas com inveja do meu :P, resolveu contribuir. Pô, pai, se eu soubesse que ias escrever comigo, poderia ter posto outro título no blog ;)
Enfim, para mim o texto está emocionante. Por Jorge Falcão, "Palavras, livros e leitores":
"Ao saber que meu destino era o campus universitário da UFPE, o motorista de taxi que me conduzia a partir do aeroporto dos Guararapes, em Recife, perguntou logo na manobra se eu era professor. Diante da resposta positiva, ficou em silêncio uns segundos, como quem toma coragem, e:
- O senhor pode me dizer o que significa a palavra “arauto”?
Virei consultor de palavras-cruzadas de taxista, pensei meio azedamente. Mas em seguida pensei também que essa devia ser uma função social minha, afinal sou servidor público, e:
- Arauto é uma espécie de mensageiro, alguém que leva e traz novidades.
- Ah!
(Silêncio)
- Tinha uma outra palavra que eu queria perguntar, mas não lembro não.
(Silêncio)
- O-RÁ-CU-LO! O senhor sabe o que é isso?
(Quantas palavras durará essa jornada ao longo da Avenida Recife?)
- Oráculo é, assim, alguém que desvenda sinais, alguém que vê indícios de acontecimentos que a maioria das pessoa não vê.
- Oráculo é isso?
- Se não me falha a memória, sim, mais ou menos isso...
- O senhor sabe se “arauto” vem do grego?
(!!!!)
- Eu não faço idéia, mas não parece grego... melhor consultar um dicionário...
(ao chegar em minha sala fui verificar, e constatei que efetivamente “arauto” vem do francês arcaico ou frâncico, hérault...)
- E qual é um dicionário bom?
- Todo mundo fala do Aurélio, não é? Tem o grandão e o pequeno, que é usado pelas crianças. Recomendo comprar o grandão.
(Silêncio)
- Eu estudei muito pouco na minha vida, mas agora voltei a ler. Quero ler dois livros por dia.
(!!!)
- Mas eu empanco nas palavras. Tem muitas palavras! Eu peço ajuda dos colegas mas é tudo mais “inguinorante”do que eu. Outro dia um deles quase dá em mim, porque eu disse que ele era um “indivíduo”. Ele ficou foi brabo! Agora me diga, qual o problema d’eu chamar ele de indivíduo? “Indivíduo” é aquele que não se divide, é aquele que é uma pessoa, certo?
- Certo...
- Então qual o problema? Ele gritava comigo que eu não chamasse ele de indivíduo, bicho mais inguinorante!
- Às vezes as palavras mudam de sentido, dependendo da situação...
- É?!!!
- Dizer que alguém é um monstro não é propriamente um elogio, mas se eu digo que João Paulo é um “monstro da política”, monstro aí tem outro sentido, não é?
- É...
(Silêncio)
- Eu queria aprender inglês. Tem uns colegas da cooperativa que estão aprendendo, pra atender os americanos. Mas eu não consigo entender nada da “voz”dos americanos! Outro dia um pegou meu taxi e pediu pra ir prum lugar que eu entendi “shopping center Recife”, e levei ele; mas ele queria ir pro “centro do Recife”. Quando eu deixei ele no shopping, ele ficou brabo, gritava, dizia “centro do Recife”, “centro do Recife”, tudo engrolado, mas era escritinho “shopping center Recife”!
- O senhor tenta aprender somente umas poucas frases, e aí vai treinando; quando aprender umas, parte pra outras, ou então fica no feijão-com-arroz mesmo.
- Eu acho que eu não aprendo mais não. É muito difícil! Eu queria aprender muita coisa, mas não cabe em minha cabeça. Queria ler dois livros por dia, mas não dá, tem palavras demais... E agora o senhor disse que ainda mais as palavras mudam...
(Pronto, eu já estava completamente engajado na conversa; poderíamos ter ido até Natal conversando, mas havíamos chegado ao campus da UFPE).
- Quem aprende, gasta tempo aprendendo, não desanime! Aprenda uma coisa todo dia, e o senhor vai ver como irá longe!
- O senhor se incomoda de escrever aqui nesse papelzinho o que o senhor disse de “arauto” e “oráculo”?
- Não, de jeito nenhum, me dê...
(...)
- Muito obrigado, o senhor ensina aqui?
- Já ensinei aqui durante muitos anos, agora ensino na universidade de Natal.
- Ensinar é a coisa mais bonita que tem!
- Obrigado!
- Eu é quem agradeço ao senhor!
- Coragem e progresso em suas leituras!
- Obrigado!
A narrativa acima é verídica, nos limites da dinâmica do conto e do reconto. Infelizmente não fiquei sabendo do nome desse taxista, nem disse a ele o meu. Em meio ao trânsito caótico, em meio à violência de Recife, descubro um taxista em busca de luzes; um taxista-leitor, empenhado de verdade em aprender, consciente do quão árdua é essa empreitada, mas comprometido pra valer com ela. Dedico a ele esse texto, na esperança de que, quem sabe, um dia ele o leia! E a ele, na sua condição pirandelliana de personagem em busca de um autor, agradeço por se deixar capturar para meu texto."
Enfim, para mim o texto está emocionante. Por Jorge Falcão, "Palavras, livros e leitores":
"Ao saber que meu destino era o campus universitário da UFPE, o motorista de taxi que me conduzia a partir do aeroporto dos Guararapes, em Recife, perguntou logo na manobra se eu era professor. Diante da resposta positiva, ficou em silêncio uns segundos, como quem toma coragem, e:
- O senhor pode me dizer o que significa a palavra “arauto”?
Virei consultor de palavras-cruzadas de taxista, pensei meio azedamente. Mas em seguida pensei também que essa devia ser uma função social minha, afinal sou servidor público, e:
- Arauto é uma espécie de mensageiro, alguém que leva e traz novidades.
- Ah!
(Silêncio)
- Tinha uma outra palavra que eu queria perguntar, mas não lembro não.
(Silêncio)
- O-RÁ-CU-LO! O senhor sabe o que é isso?
(Quantas palavras durará essa jornada ao longo da Avenida Recife?)
- Oráculo é, assim, alguém que desvenda sinais, alguém que vê indícios de acontecimentos que a maioria das pessoa não vê.
- Oráculo é isso?
- Se não me falha a memória, sim, mais ou menos isso...
- O senhor sabe se “arauto” vem do grego?
(!!!!)
- Eu não faço idéia, mas não parece grego... melhor consultar um dicionário...
(ao chegar em minha sala fui verificar, e constatei que efetivamente “arauto” vem do francês arcaico ou frâncico, hérault...)
- E qual é um dicionário bom?
- Todo mundo fala do Aurélio, não é? Tem o grandão e o pequeno, que é usado pelas crianças. Recomendo comprar o grandão.
(Silêncio)
- Eu estudei muito pouco na minha vida, mas agora voltei a ler. Quero ler dois livros por dia.
(!!!)
- Mas eu empanco nas palavras. Tem muitas palavras! Eu peço ajuda dos colegas mas é tudo mais “inguinorante”do que eu. Outro dia um deles quase dá em mim, porque eu disse que ele era um “indivíduo”. Ele ficou foi brabo! Agora me diga, qual o problema d’eu chamar ele de indivíduo? “Indivíduo” é aquele que não se divide, é aquele que é uma pessoa, certo?
- Certo...
- Então qual o problema? Ele gritava comigo que eu não chamasse ele de indivíduo, bicho mais inguinorante!
- Às vezes as palavras mudam de sentido, dependendo da situação...
- É?!!!
- Dizer que alguém é um monstro não é propriamente um elogio, mas se eu digo que João Paulo é um “monstro da política”, monstro aí tem outro sentido, não é?
- É...
(Silêncio)
- Eu queria aprender inglês. Tem uns colegas da cooperativa que estão aprendendo, pra atender os americanos. Mas eu não consigo entender nada da “voz”dos americanos! Outro dia um pegou meu taxi e pediu pra ir prum lugar que eu entendi “shopping center Recife”, e levei ele; mas ele queria ir pro “centro do Recife”. Quando eu deixei ele no shopping, ele ficou brabo, gritava, dizia “centro do Recife”, “centro do Recife”, tudo engrolado, mas era escritinho “shopping center Recife”!
- O senhor tenta aprender somente umas poucas frases, e aí vai treinando; quando aprender umas, parte pra outras, ou então fica no feijão-com-arroz mesmo.
- Eu acho que eu não aprendo mais não. É muito difícil! Eu queria aprender muita coisa, mas não cabe em minha cabeça. Queria ler dois livros por dia, mas não dá, tem palavras demais... E agora o senhor disse que ainda mais as palavras mudam...
(Pronto, eu já estava completamente engajado na conversa; poderíamos ter ido até Natal conversando, mas havíamos chegado ao campus da UFPE).
- Quem aprende, gasta tempo aprendendo, não desanime! Aprenda uma coisa todo dia, e o senhor vai ver como irá longe!
- O senhor se incomoda de escrever aqui nesse papelzinho o que o senhor disse de “arauto” e “oráculo”?
- Não, de jeito nenhum, me dê...
(...)
- Muito obrigado, o senhor ensina aqui?
- Já ensinei aqui durante muitos anos, agora ensino na universidade de Natal.
- Ensinar é a coisa mais bonita que tem!
- Obrigado!
- Eu é quem agradeço ao senhor!
- Coragem e progresso em suas leituras!
- Obrigado!
A narrativa acima é verídica, nos limites da dinâmica do conto e do reconto. Infelizmente não fiquei sabendo do nome desse taxista, nem disse a ele o meu. Em meio ao trânsito caótico, em meio à violência de Recife, descubro um taxista em busca de luzes; um taxista-leitor, empenhado de verdade em aprender, consciente do quão árdua é essa empreitada, mas comprometido pra valer com ela. Dedico a ele esse texto, na esperança de que, quem sabe, um dia ele o leia! E a ele, na sua condição pirandelliana de personagem em busca de um autor, agradeço por se deixar capturar para meu texto."
terça-feira, 7 de outubro de 2008
We have to kill him
Em um recente debate entre os presidenciáveis norte-americanos, Barack Obama proferiu a seguinte pérola, referindo-se a Osama Bin Laden: "we have to find him and kill him!". Ninguém me contou, EU ouvi.
A declaração não pareceu nada alarmante, pareceu mais uma promessa qualquer de campanha. Eu prometo mais empregos, melhorar o sistema de saúde e matar Bin Laden. É tão simples assim?? Vocês imaginam Lula, Alckmin, ou até mesmo, sei lá, Severino Cavalcanti, dizendo: "Temos que encontrar Fernandinho Beira Mar e matá-lo"?? No mínimo, isso geraria uma semana de rebuliço no país. Imaginem, entre as manchetes do Jornal Nacional, Fátima Bernardes anunciando: "A seguir: Lula promete matar Fernandinho Beira Mar". Pode até ser que boa parte da população brasileira aprovasse a medida, e adorasse ver Beira Mar nas mãos do Capitão Nascimento. Mas venhamos e convenhamos, nossas razões são bem outras, nascidas de um sentimento de revolta ao vermos tantos revólveres apontados para cabeças inocentes por conta de celulares e alguns reais - e isso é tema para outro post. Mas e eles lá de cima, que razões têm?
No documentário "Por que lutamos", a grande maioria dos norte-americanos entrevistados na rua respondeu: "lutamos por liberdade". Liberdade de quem, cara-pálida? Isso parece cantilena de colégio, memorizada sem compreensão. Quando eu era 7a série, nossa professora de Ciências nos fez decorar que "enzima é uma substância capaz de acelerar uma reação" e eu não fazia a menor idéia do que isso queria dizer. Nas escolas norte-americanas, eles devem fazer as crianças repetirem "lutamos por liberdade". Às vezes me pergunto se já não está em andamento a edição de notícias passadas para fazer a sociedade acreditar em fatos que não ocorreram, como George Orwell descreveu em "1984" - a verdade é aquilo em que todo mundo acredita.
É uma questão de valores. Digam o que quiserem, mas pra mim há algo de intrinsicamente errado com os princípios dessa gente do Tio Sam.
E assim, os Estados Unidos libertaram o Iraque de Saddam Hussein. No buraco, encontraram apenas o ditador, que escondeu tão bem suas armas de destruição em massa que nem ele mesmo as encontrou mais - do contrário não estaria morto agora.
Pois é, senhoras e senhores, continua a missão estadunidense para salvar o mundo. Clap, clap, clap, parabéns, Obama. Do outro lado do planeta, dentro de algum buraco, Osama deve estar discursando para seus homens-bomba: "temos que entrar lá e explodirmo-nos". Vai ver que, eles também, lutam por liberdade.
A declaração não pareceu nada alarmante, pareceu mais uma promessa qualquer de campanha. Eu prometo mais empregos, melhorar o sistema de saúde e matar Bin Laden. É tão simples assim?? Vocês imaginam Lula, Alckmin, ou até mesmo, sei lá, Severino Cavalcanti, dizendo: "Temos que encontrar Fernandinho Beira Mar e matá-lo"?? No mínimo, isso geraria uma semana de rebuliço no país. Imaginem, entre as manchetes do Jornal Nacional, Fátima Bernardes anunciando: "A seguir: Lula promete matar Fernandinho Beira Mar". Pode até ser que boa parte da população brasileira aprovasse a medida, e adorasse ver Beira Mar nas mãos do Capitão Nascimento. Mas venhamos e convenhamos, nossas razões são bem outras, nascidas de um sentimento de revolta ao vermos tantos revólveres apontados para cabeças inocentes por conta de celulares e alguns reais - e isso é tema para outro post. Mas e eles lá de cima, que razões têm?
No documentário "Por que lutamos", a grande maioria dos norte-americanos entrevistados na rua respondeu: "lutamos por liberdade". Liberdade de quem, cara-pálida? Isso parece cantilena de colégio, memorizada sem compreensão. Quando eu era 7a série, nossa professora de Ciências nos fez decorar que "enzima é uma substância capaz de acelerar uma reação" e eu não fazia a menor idéia do que isso queria dizer. Nas escolas norte-americanas, eles devem fazer as crianças repetirem "lutamos por liberdade". Às vezes me pergunto se já não está em andamento a edição de notícias passadas para fazer a sociedade acreditar em fatos que não ocorreram, como George Orwell descreveu em "1984" - a verdade é aquilo em que todo mundo acredita.
É uma questão de valores. Digam o que quiserem, mas pra mim há algo de intrinsicamente errado com os princípios dessa gente do Tio Sam.
E assim, os Estados Unidos libertaram o Iraque de Saddam Hussein. No buraco, encontraram apenas o ditador, que escondeu tão bem suas armas de destruição em massa que nem ele mesmo as encontrou mais - do contrário não estaria morto agora.
Pois é, senhoras e senhores, continua a missão estadunidense para salvar o mundo. Clap, clap, clap, parabéns, Obama. Do outro lado do planeta, dentro de algum buraco, Osama deve estar discursando para seus homens-bomba: "temos que entrar lá e explodirmo-nos". Vai ver que, eles também, lutam por liberdade.
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