Localização: céu sobre mar
Fuso horário: desconhecido
Vista: para as nuvens
"A lágrima ou fluido lacrimal é um líquido composto de água, sais minerais, proteínas e gordura, produzido pelas glândulas lacrimais nas pálpebras superiores do olho humano para lubrificar e limpar o olho. É produzido em grande quantidade quando alguém chora."
Meu rosto ardeu com cada uma. Não sei de onde veio essa mania boba de chorar com qualquer comediazinha romântica hollywoodiana. Durante vários anos eu convivi, aprendi a lidar com (aprendi?) e compreender (ou fingir que compreendia) a insensibilidade nata. Não demorou muito para eu cortar o eu te amo do vocabulário. Ele fazia a linha saying I love you is not the words I want to hear from you, eu terminei concluindo que I love you, is all that you can't say, years gone by and still, words don't come easily. Fleumático - foi como ele se definiu ainda nas preliminares ("o fleumático, geralmente é calmo, frio, equilibrado, raramente explode em risos ou em raiva"). Incapaz de amar - foi o que ele sugeriu nos últimos minutos das prorrogações.
Depois desse longo jogo, dele eu não sei mais. Mas, talvez não surpreendentemente, passei eu a ser chamada de insensível, frente a uma socialmente inesperada ausência de lágrimas em situações convidativas. Em despedidas tu não gostas da gente, tá indo embora e nem tá chorando. Face a revelações cruéis ainda não foi desta vez que eu te fiz chorar, né? Não, ainda não foi desta vez.
Assisto a filmes difíceis, filmes cabeça, filmes deprê. Mas nenhum deles me faz chorar como um água-com-açúcar. Love Happens tem tudo que não presta: auto-ajuda, morte de pessoa amada, auto-culpa, uma linda mocinha traída, mais quinhentos e vinte e cinco clichês, atores marromeno, e um galã nem tão galã assim. Argh. Mil vezes argh. Mas quando a frase final foi triunfantemente pronunciada pelo narrador no background das cenas felizes para sempre, eu lembrei que lágrimas ardem. "When something ends, something else begins."
Abri uma frestinha da janela do avião para deixar entrar um pouco de céu. Fiquei sentindo cada uma de minhas preciosas lágrimas abrir devagar seu caminho rosto abaixo. Foi gostoso. Começos, fins, começos... Tentei lembrar da última vez que escutara um eu te amo. Não consegui. Comédias românticas nos fazem sonhar com amores convencionais, amores eu te amo. Os meus não foram bem assim (é a vida), mas todos me deixaram, a seu modo, lindas e doces e maravilhosas lembranças (é bonita e é bonita). Daria até pra fazer um filme. Final: em aberto. Quem sabe um amor eu te amo me faça voltar a chorar com a vida real.
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3 comentários:
Acho que amor Eu te Amo está cada vez mais difícil de achar... Às vezes a situação é óbvia, mas as pessoas ainda assim resistem o quanto podem a dizer essas três palavrinhas. E, às vezes, quando elas dizem, o outro não acredita que seja real. Por que será que falar Eu te Amo ficou tão complicado?
eu tenho uma tese: a gente vai ficando velha e vai inventando de morar fora e vai endurecendo.
só que é endurecendo pelo lado de fora, porque do lado de dentro a gente continua ali, um pouco como pitomba, sabe?, que é tão macia e branquinha (e meio azeda, porque todo mundo tem seus azedumes) por dentro. endurecer acaba se fazendo necessário, como uma técnica de sobrevivência, até, pra evitar que a gente não fique por aí chorando pelos cantos em todo comercial de margarina ou em toda visão de um sol com um mar.
e as pessoas também vão endurecendo e ficando cada vez com mais medo de dizer eu te amo. acho que isso acontece quando elas descobrem que não precisa envelhecer nem morar longe pro mundo ficar arredio e perigoso. tudo bobagem: a graça de morar neste mundo são os perigos e os descaminhos, certo? quem dizia mesmo que "são demais os perigos desta vida"?
tudo isso pra dizer: um dia, mesmo depois de 4 anos (ou mais), vai aparecer um típico eu te amo ao seu lado, embaixo da árvore, no meio da chuva. e talvez ele nem precise dizer nada.
e isso vai querer dizer: que bom, eu envelheci, mas amadureci também.
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