À noitinha, N. desligou o computador. Tinha sido um longo dia de trabalho. Ela encheu um cálice de vinho tinto e colocou-o ao lado do piano, para saboreá-lo entre uma peça e outra. Disse que C. prometera levá-la para jantar, mas estava no bar com os amigos [Ah, que típico... ela pode esperar sentada, talvez ele nem sequer apareça, você vai ver]. Ela serviu-se um pouco mais de vinho, e fomos assistir o mundial de ginástica na TV. Estou com fome, ela disse [Ah, coitada. É besta, hein? Fica aí passando fome enquanto o outro tá lá, tomando uma, nem aí. Mulher é tudo besta mesmo.]. Mas sabe, as coisas não estão fáceis pra ele no trabalho. Ele precisa de uma sessão de reclamações no bar com os amigos. [Sim, essa desculpa morreu de velha. Ouve esse conselho, melhor ligar e mandar ele vir, se não vai morrer é de fome] C. não tardou. N. o recebeu com um sorriso [Mas no fundo, com certeza, ela deve estar louca para pegar uma boa briga]. Ele disse que ela estava linda com seu pulôver de listras azuis [Claro, querendo agradar]. Foram jantar [Aposto que ela ficou de cara feia, ele perguntando o que ela tinha, ela dizendo que não era nada, que estava ótima]. Voltaram rindo e batendo papo, como sempre [O que?? Nem uma discussãozinha?]
N. também sai para beber com os amigos. N. geralmente fica mais bêbada que C. C. viaja para esquiar com o pai. N. acha que estar com alguém sem precisar de papel passado é a maior prova de amor diária que se pode dar. C. até que gostaria de um casamento tradicional. N. apoia tudo que faça C. crescer, e que o faça feliz. C. apoia tudo que faça N. crescer e que a faça feliz. C. cozinha para N. N. cozinha para C. Desconfianças, picuinhas e dependência definitivamente não fazem parte deste relacionamento. Mas eles adoram estar juntos. Se vão ser felizes para sempre, eu não sei. Mas N. e C. são sempre felizes.
Li em algum lugar que somos tão felizes quanto decidimos ser. Vai ver, é verdade.
Mudamos
Há 3 meses
4 comentários:
Ils sont fous les anglais!
que seja eterno enquanto dure!
e que a busca de nós outros não dure muito, porque eterna ela parece...
No nordeste do Brasil dizemos: "feliz que nem pinto ciscando na merda". A felicidade é assim, etérea, subjetiva, fugidia, relativa, às vezes catingosa. Para uns, não há felicidade possível em estar com as patas na merda; para outros, é estar realizando seu ser-de-pinto, seu Dasein[ser-no-mundo]-de-pinto, tá ligado?. Tenho conversado ultimamente com catadores de lixo de Natal(RN), no lixão da cidade, que me fizeram olhar para o recipiente de lixo de minha casa com outros olhos... Muitos deles se dizem felizes, parecem felizes, teimam em bailar sobre montões de garrafas pet exercitando o que os livros de qualidade de vida no trabalho chamam pomposamente de "prazer laboral". Ora direis, ouvir estrelas... Pessoas tão pobres, por certo estão cegas para a merda em que estão imersas. Pode ser. Eu, nessa quadra da vida, e citando um colega querido que perdi de vista em algum lugar entre Porto Alegre e Rio de Janeiro, digo que só sei que nada sei, e nem disso estou bem certo... Digo que há trocentas formas de ser feliz, trocentas de ser infeliz, ficando a definição da essência da felicidade guardada naquele ovo que os profetas esotéricos esperam que um dia sairá do cu da Grande Galinha-Mãe. Até que chegue esse dia, uma cerveja gelada pra pensar melhor já vai muito bem, né não Chico Science?
Somo sfelizes qdo decidimos ser? Nossa, isso é interessante. Vou ver se adoto essa postura tmb ^^' E na torcida para a felicidade de N e C durar o quanto puder. \o/
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