sábado, 14 de fevereiro de 2009

Por um pouco de crédito

O dia tinha estado lindo, mas para nos lembrar da nossa localização geográfica, São Pedro salpicava-nos umas gotinhas d'água. Vinha eu, absorta em minha música, fones nos ouvidos, protetor de orelhas a cobri-los, andando sem pressa por esta tarde de inverno. Ela me sorriu de longe, e achei que não fosse comigo. Mas ela veio em minha direção e o movimento de seus lábios me obrigou a tirar o protetor de orelhas, tirar os fones dos ouvidos e pedir-lhe que repetisse.
- Sorry... do you have credit?
Pelo sotaque, ela claramente não era britânica. Por me abordar assim no meio da rua, ela claramente não era britânica. Surpreendida, não soube como interpretar a pergunta. Crédito? No banco? Na praça? Na vida? No celular? Batata, no celular. Sem muita filosofia, Taciana. Ali, parada no meio de uma calçada qualquer, ela precisava telefonar e, ó azar, o seu crédito acabara. Entreguei-lhe o meu celular, preparando-me para vê-la sair correndo com ele - não que seja um iphone, muito pelo contrário, mas o que esperar de uma criatura que lhe para na rua pedindo o celular emprestado? Mas em vez disso, ela simplesmente teclou um número, teclou de novo, mas não conseguiu contato. Sugeri-lhe enviar uma mensagem de texto, mas ela, sempre sorrindo, recusou e agradeceu, tocando-me no braço (tocando-me? Definitivamente, ela não era britânica).
Cheguei em casa e relatei o inusitado episódio a minha - britânica - companheira de apartamento, N. Ela me ouviu atônita, mas, britanicamente, evitou maiores comentários. Mais tarde, eis que toca o meu celular, e uma voz de homem pergunta: "você ligou para este número?" "Ah!", respondo eu, "é que uma menina me parou na rua e blá blá blá"; "Ah, ok". Clic.
Assim que desligo, grita N., de seu quarto, em um tom de total reprovação: "eu ouvi isso!!!", emendando: "NUNCA tente ajudar as pessoas."
E cá com meus botões, fiquei pensando se era mesmo essa a moral a ser tirada dessa história.

3 comentários:

felipe galvão disse...

meu jesus, quanta desconfiança! e somos nos que viemos do recife, hein? outro dia aconteceu algo semelhante aqui: uma adolescente me parou na rua pedindo pra usar meu celular pra ligar pra mãe. na hora fiquei imovel, olhando pra cara dela e pensando em todas as possibilidades de ela me dar um golpe ou algo do tipo. que nada: ela ligou pra mãe e pediu para pegar ela no teatro, pois estava chovendo muito. pril.

Anônimo disse...

E eu que achava que era super desconfiada... é mesmo uma linha tênue entre o autroísmo e a desconfiança...Ainda mais para quem sempre levou grandes rasteiras...ou mesmo para quem sempre foi surpreendida pela bondade das pessoas....Daí complica tomar uma postura 8 ou 80. E como lidar com uma desconhecida que achou seu blogs por acaso e quer visitá-lo sempre? Será que pode?
=D

Taciana disse...

oi Analu!
Claro que pode!! Seja muito bem-vinda e volte sempre :D