E no exato momento em que os olhares se cruzaram - eles não sabem - mas um sentimento que chamam de amor fez o fio passar a ter um comprimento infinito, para que eles pudessem afastar-se um do outro o quanto fosse desejado ou necessário, e puxarem-se de volta um para o outro sempre que a saudade apertasse.
Usaram e abusaram do fio invisível. Às vezes, alguém, em alguma parte do mundo, tropeçava de leve em algo que não se podia ver, mas que cruzava as terras de Paris a Sevilha, de Recife a Cuiabá. Mas era um tropeço tão suave, que era quase um carinho, pois o fio, se não podia ser visto, podia ser sentido e, dirão alguns, que podia até mesmo ser ouvido.
Porém os sussurros que nele viajavam, só os mais distraídos podiam decifrar. Os passarinhos, as borboletas, as libélulas, até mesmo em pousos rápidos, juram ter ouvido ele perguntar se ela topava voltar pra casa um pouco mais cedo. E ela dizer que sim. E ela, um dia, perguntou se ele podia ficar um pouco mais. E ele, disse sim. E ele perguntou se ela podia se apressar um pouco para saírem logo! Ela disse sim - mas há controvérsias! Em troca ela perguntou se ele teria coragem de conhecer seu pai. Mas é claro que ele disse sim.
Entretanto, ao longo dos anos, desde aquele dia qualquer, comum, havia uma pergunta que todos os pássaros distraídos, e as abelhas, e as libélulas, e os vaga-lumes, todos esperavam ouvir. E quando ela veio, o fio estremeceu-se, saiu do chão, causou uma revoada de bichos e folhas, pois ela foi feita em perfeita harmonia, em tom maior para ser feliz, em uníssono, pelos dois, ao mesmo tempo - e quem os conhece sabe que não podia ser diferente. E é claro, que eles disseram: sim.